Os 3 principais riscos para o crescimento do PIB do Brasil em 2025
Especialistas ouvidos pelo g1 explicam que uma série de fatores internos e externos devem fazer com que a economia brasileira passe por uma desaceleração neste ano. Foto ilustrativa de cédulas de real
Marcos Santos/USP Imagens
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,4% em 2024, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira (7). O resultado, impulsionado pelos setores de serviços e indústria, surpreendeu os agentes do mercado financeiro, que previam um crescimento maior, de 4,1%.
Olhando para o passado, porém, as projeções do mercado eram bem menores no ano anterior. O primeiro boletim Focus de 2024 — relatório do Banco Central (BC) que reúne as previsões de mais de 100 instituições financeiras — trazia estimativas de apenas 2,92% para o PIB do ano.
Para 2025, as expectativas não começaram otimistas. O Focus da última quarta-feira (5) mostra que o mercado projeta um crescimento do PIB de 2,01% em 2025. Na primeira semana do ano, a projeção era de alta de 2,02%.
Os analistas esperam que a economia brasileira passe por uma desaceleração em 2025. Além disso, a leitura é que a atual política de gasto público do governo também pode acabar comprometendo um resultado mais sustentável da economia. A política fiscal, dizem, é o maior desafio. (veja no vídeo abaixo)
Especialistas afirmam que atual política de gasto público do governo pode comprometer resultado sustentável da economia
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"O BC está trabalhando para tentar conter a inflação, mas a política fiscal não está conseguindo ajudar. Pelo contrário, está fazendo papel de aumentar mais o gasto, e isso está atrapalhando o trabalho da instituição", afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Por isso, o g1 perguntou a quatro especialistas quais são os principais riscos para a atividade econômica do país.
Segundo eles, a desaceleração deve ser causada por um conjunto de fatores nacionais e internacionais. Veja quais são os principais riscos:
Redução de estímulos fiscais pelo governo brasileiro;
Taxas de juros elevadas e em tendência de alta;
Novas tarifas de Donald Trump.
Redução de estímulos fiscais pelo governo brasileiro
O economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, explica que a atividade do país em 2024 se beneficiou de duas principais vertentes: um crescimento natural da economia decorrente de reformas e um mercado de trabalho aquecido, além de um crescimento impulsionado por estímulos fiscais.
No ano passado, a taxa de desemprego do país ficou em 6,6%, o menor patamar da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE. E o Brasil também teve recorde no nível de ocupação em 2024: mais de 103,3 milhões, na média do ano.
Um mercado de trabalho aquecido por si só já estimula a economia, porque mais dinheiro nas mãos da população aumenta o consumo das famílias, um dos principais motores da atividade econômica do país. Em 2024, segundo o IBGE, o consumo das famílias cresceu 4,8%.
Margato afirma que as reformas econômicas aprovadas nos últimos anos — como a reforma da previdência, a reforma trabalhista, o novo marco do saneamento e o marco legal das startups, por exemplo — deram um potencial maior de crescimento anual do país, estimado em cerca de 2% ao ano. É um nível próximo ao que se espera para 2025.
Na visão do economista, as reformas tornam a economia mais dinâmica, com potencial de geração de vagas de emprego e movimentação da atividade. "Antes, em 2017 e 2018, o potencial de crescimento anual do Brasil era de 1% a 1,5%."
"Mas essa conjuntura não parece explicar todo o crescimento do último ano", pontua. Nesse sentido, o economista destaca que a alta muito acima do esperado tem relação com os estímulos fiscais dados pelo governo federal, caso das facilitações de crédito para empreendedores, e o programa Pé-de-Meia, por exemplo.
A estimativa do PT, partido de Lula, é que o Pé-de-Meia tenha injetado mais de R$ 300 milhões na economia brasileira só até setembro. Já a expectativa para o programa Acredita Brasil, de créditos para empreendedores, deve injetar R$ 30 bilhões até o fim de 2026, numa toada que já começou no ano passado.
O próprio IBGE destaca o papel dos estímulos fiscais no crescimento do PIB. Além do mercado de trabalho aquecido, o Instituto também atribui o forte consumo das famílias aos incentivos do governo ao longo do ano.
Em 2025, porém, não se espera que o governo insira vários novos estímulos (principalmente com alto potencial de gastos), especialmente após o anúncio do pacote de corte de gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O pacote tem como objetivo economizar R$ 327 bilhões em cinco anos e equilibrar a trajetória das contas públicas.
Apesar disso, o governo Lula tem tentado dar alguns incentivos que não gerem tanto impacto aos cofres públicos, em meio à queda da aprovação de seu governo nas pesquisas de popularidade.
Em fevereiro, por exemplo, anunciou a liberação do saldo do FGTS de trabalhadores demitidos sem justa causa, mas que não puderam sacar o dinheiro, pois optavam pela modalidade de saque-aniversário. A medida deve beneficiar 12,1 milhões de pessoas e injetar R$ 12 bilhões na economia.
Como mostrou reportagem do g1, especialistas consideram que o montante de dinheiro não é suficiente para superaquecer a economia, mesmo que a medida incentive o consumo e gere uma pressão momentânea nos preços.
E assim, se realmente não houver novos estímulos que coloquem quantias mais expressivas de dinheiro nas mãos da população no curto prazo, o crescimento da economia deve se acomodar ao seu potencial natural, explica Margato.
Taxas de juros elevadas e em tendência de alta
A junção de um mercado de trabalho aquecido e estímulos fiscais gera o receio nos economistas de que a economia brasileira esteja trabalhando acima de sua capacidade, o que provoca inflação.
Antônio da Luz, economista da Ecoagro, faz uma analogia com os esportes para explicar o problema de estimular demais a economia: "Se um personal passa um treino para um aluno para desenvolver o físico, mas esse aluno começa a usar muitos anabolizantes, o corpo até pode parecer ideal e muito rápido, mas um exame de sangue vai mostrar que há algo errado".
Um exemplo prático dessa situação na economia é a inflação de serviços. Até janeiro, o núcleo da inflação de serviços (que exclui itens voláteis, como passagens aéreas) acumulava uma alta anual de 5,9%, mais do que a inflação oficial, que acumulou 4,56%, mostra levantamento da Monte Bravo.
O setor de serviços é um dos primeiros a refletir um hiato do produto positivo — ou seja, quando a demanda por bens e serviços é maior do que a capacidade produtiva do país. Isso porque este é um setor que depende, essencialmente, da mão-de-obra. Com maior demanda por profissionais (como garçons, recepcionistas e cabelereiros, por exemplo), mais caro fica para contratar mais pessoal.
Além disso, em 2025, também pesam novos fatores externos, como a alta do dólar por conta da expectativa de juros maiores nos Estados Unidos. (entenda mais detalhes abaixo)
A inflação anual teve alta de 4,86% em 2024. Segundo o Focus, deve chegar a 5,65% ao término de 2025.
Por isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC está em meio a um ciclo de altas da taxa básica de juros desde setembro. Foram quatro altas seguidas, levando os juros a 13,25% ao ano. A expectativa é de que a Selic chegue a 15% em 2025.
Juros altos são a forma que o Copom tem de conter a inflação, porque encarecem a tomada de crédito e processos de financiamento, reduzindo o consumo das famílias. Esse processo, porém, leva algum tempo, já que cada mexida na taxa de juros demora de seis a nove meses para atingir a economia real.
O que se espera é que os efeitos dos juros mais altos só comecem a ser sentidos pelos brasileiros em meados deste ano, sobretudo no segundo semestre, afirma Luz.
Novas tarifas de Trump
O exterior também promete trazer problemas para a economia brasileira nos próximos anos. O principal risco vem de Donald Trump, novo presidente dos EUA.
Desde que voltou à Casa Branca, Trump adotou uma postura de priorizar a produção interna dos EUA em detrimento das importações, cumprindo uma de suas promessas de campanha de tarifar parceiros comerciais.
Josenito Oliveira, professor de economia da Universidade Tiradentes, diz que estratégia serve como forma de obter vantagem em negociações internacionais, ameaçando os acordos comerciais. Mas, levando as medidas à frente, há risco de encarecimto dos preços dos insumos e de produtos prontos que chegam aos EUA, tornando-os mais caros.
Isso pode gerar mais inflação no país, que já luta para reduzir seus índices de preços. Em janeiro, a inflação anual americana chegou a 3%, acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
A situação pode levar o Fed a promover novas altas nas taxas de juros, que estão entre 4,25% e 4,50% ao ano. Juros mais altos nos EUA elevam a rentabilidade dos títulos públicos do país, considerados os mais seguros do mundo, e atraem mais investidores para o país, fortalecendo o dólar.
Um dólar elevado encarece tudo no Brasil, pois muitos produtos são importados ou têm insumos importados, gerando mais pressão inflacionária. Isso, por fim, pode prolongar o ciclo de juros elevados no Brasil, pesando sobre o consumo das famílias e o PIB.
Só em 2024, o dólar já subiu mais de 20%, e apesar de recuar um pouco nos primeiros meses deste ano, continua com a cotação elevada. Isso já impactou nos preços de diversas cadeias produtivas, como itens de saúde e produtos de tecnologia. Se voltar a subir mais, a moeda pode pesar sobre a economia brasileira.
Por enquanto, tudo o que partir do México, Canadá e China será taxado nos EUA, e há uma ameaça de que a medida se estenda à União Europeia. Novas tarifas também foram impostas sobre madeira, produtos florestais e automóveis, além de aço e alumínio, que o Brasil exporta para lá.
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