Trump amarga queda de popularidade por minar confiança dos americanos no modelo de liderança e segurança forte dos EUA
Caos, canetaço e confrontos em série predominaram em 100 dias do presidente no cargo, mas reação começa a se delinear em bloqueios judiciais, protestos e desaprovação. O presidente dos EUA, Donald Trump
REUTERS/Kevin Mohatt
Foi difícil manter o foco nos primeiros 100 dias do governo Trump, e a estratégia do presidente americano no segundo mandato parece ser essa mesma: a de governar sob a égide do caos, dada a enxurrada de decretos, memorandos e factoides disparados em velocidade arrebatadora.
O canetaço se afirmou em 220 ordens executivas, na média de duas por dia, que já é recorde entre os ocupantes da Casa Branca.
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Governo Trump completa 100 dias: veja o que ele fez e o que continua na promessa
O presidente vai festejar, nesta terça-feira (29), o 100º dia no cargo num comício, e gabar-se como um marco bem-sucedido na história do país, mas os americanos consideram que ele foi longe demais nas suas atribuições.
O índice de aprovação do presidente varia entre 39% e 41%, e é o menor do período em relação a seus antecessores nas últimas sete décadas, de acordo com pesquisas divulgadas no fim de semana.
O declínio na popularidade é reflexo do fato de Trump ter passado estes primeiros três meses jogando os Estados Unidos em sucessivas crises e minando a confiança no modelo de país com liderança forte e seguro economicamente.
O desagrado se manifesta na rejeição de 64% dos americanos à guerra comercial protagonizada pelo presidente, como constatou a Ipsos.
Em entrevista à revista “The Atlantic”, ele resumiu enfaticamente o seu papel nesse segundo mandato: “Eu governo o país e o mundo.”
Trump tem o maior índice de desaprovação dos últimos 80 anos
Nos primeiros 100 dias, Trump fez jus à citação, de forma autoritária e irresponsável. Ele se escorou no tripé deportação-tarifaço-guerra cultural, para abrir confrontos em série dentro e fora dos EUA, que desestabilizaram adversários e aliados.
Tentou remodelar a ordem econômica mundial com a controversa e errática política tarifária que fez os mercados despencarem e desencadearam o oposto do prometido em campanha.
Diante de contundentes alertas de economistas sobre a alta de preços e a desaceleração da economia americana, ele recuou e pausou a guerra, causando mais incerteza e descrédito entre investidores e empresários que o apoiaram.
O governo promoveu uma caçada aos imigrantes sem documentos, mobilizando as agências federais para encontrá-los e expulsá-los do país.
Teve sucesso no declínio de pessoas na fronteira sul. Por outro lado, o presidente terceirizou a deportação, enviando imigrantes de outras nacionalidades para El Salvador sem o devido processo legal, ignorou decisões judiciais que contestaram a decisão e, a certa altura, ameaçou deportar americanos.
Até agora, os tribunais emitiram pelo menos 120 ordens bloqueando as políticas do presidente, consideradas inconstitucionais. Réu condenado, Trump desafiou e ridicularizou o sistema judiciário.
Atacou instituições tradicionais como universidades e museus, cortando o financiamento em troca de ajustes que violam a sua independência.
Em três meses, Trump fez ingerências diretas na soberania de países, como Panamá e Canadá, e ameaçou tomar a Groenlândia à força.
Perseguiu promotores que o investigaram e demitiu funcionários no Departamento de Justiça, remodelado à sua imagem.
Em contrapartida, no primeiro dia, perdoou os simpatizantes que participaram da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, incluindo os condenados por atos violentos.
Sete por cento do mandato presidencial transcorreram sob o signo da turbulência e da vingança aos desleais. Trump agiu mais como imperador do que como presidente, arruinando alianças, enfraquecendo instituições e fortalecendo os radicais de seu partido.
A reação aos impulsos autoritários começa a se delinear em bloqueios judiciais, protestos de rua e, principalmente, na queda de popularidade. Ignorar esses sinais é ir de encontro ao fracasso.
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